29.6.07

e vem a chuva.


nem sempre se devia estar na janela fumando aquele cigarro. nem sempre se devia olhar as pessoas andando nas ruas. nem sempre se devia sair de casa meia hora depois, e ver uma tragédia. mas nem sempre se devia sair meia hora antes e fazer parte dela. nem sempre se devia estar em um orelhão ligando pra quem se ama. nem sempre se devia sair dentro de um carro em um estacionamento. nem sempre se devia escutar tanto os que os outros tem a dizer. mas nem sempre o que os outros dizem não faz sentindo. nem sempre se deve acreditar na vida. mas nem sempre ela é pouco previsível. nem sempre se deve estar naquele lugar. e nem sempre a vida vale tanto. nem sempre tudo parece ser normal. e, sempre, a vida não vale nada. mas vale ser vivida. e, sempre, vem a chuva e lava tudo.



-
texto antigo.

25.6.07

desejo e amor.

-
desejo e amor. irmãos. por vezes gêmeos; nunca porém, gêmeos idênticos.

desejo é vontade de consumir. absorver, devorar, ingerir e digerir - aniquilar. O desejo não precisa ser instigado por nada mais do que a presença da alteridade. Essa presença é desde sempre uma afronta e uma humilhação. é uma compulsão a preencher lacuna que separa da alteridade, na medida em que esta acena e repele, em que seduz com a promessa do inexplorado e irrita por sua obstinada e evasiva diferença.
.
.
.
o amor, por outro lado, é a vontade de cuidar e de preservar o objeto cuidado. Um impulso centrífugo, ao contrário do centrípeto desejo. um impulso de expandir-se, ir além, alcançar o que 'está lá fora'. ingerir, absorver e assimilar o sujeito no objeto , e nâo vice-versa, como o caso do desejo.
.
.
.
se o desejo quer consumir, o amor quer possuir
.

-
alguém fodástico que desconheço.

22.6.07

o vento.



-
as vezes ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.

pessoa.

21.6.07

o que se vê.



-
me ajuda a pedir de novo o que eu não consigo.

o vidro quebrou? foi bicada de um pato.
pato, aqui?
então de passarinho.

céu escuro cheio de estrelas.
enxergo até a ficção científica.

desconfio que as coisas mais lindas não são de ver, são do escuro.

mas não quero ficar cega.
um dia há de ha_ver,
enxergar mais limpo e alto,
todos altos.

mas sabe como é: por enquanto,
eu sou baixinha.

19.6.07

moveções.



-
foram vários.
vários os filetes de raio que entravam pelas lacunas dos meus olhos.
pouco a pouco, eu tentava abrir. um pouco embaçados, eles sentiam.
seus braços envolta da minha cintura, os pêlos acariciando a pele rosada, formando gotículas de suor.
tudo isso, porque seus dedos na minha pele são arrepios.
você em mim é moveção: coisas que provocam coisas.

17.6.07

reino da alegria.



- "o pato é o cara."

-
eu sei,
que ficar bêbado de felicidade
é um estado além.

16.6.07

verbo intransitivo.



- mamãe,
deixa escutar seu coração, pra ver se tá batendo?
- vem cá.
- tá batendo. tá parado, mas pulando forte.

-
verbo intansitivo, amor é.

15.6.07

detalhes.



-
tem dias, que a gente acorda sentindo demais.
aquelas pequenas coisas, detalhes. o todo.
sentindo tanto,
a noite dormida abraçadinho, o carinho retribuído por uma lembrança.
as palavras doces, os sorrisos de canto.
as lágrimas, o virar de olhos, as cosquinhas e os dedos entrelaçando os cabelos.


desde o abrir dos olhos, ao pulsar do coração.

14.6.07

sobre o agora.



-
é o entre
que cabe tanto.

estrelas.



-
a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão.

leminski.

pedra.



-
incerteza é um medinho que faz frio na barriga.
faz o coração bater um século sem parar. faz lágrimas.
faz pensar nas possibilidades e ter coragem de agir.
de seguir em frente, mesmo que por outros caminhos.
de nunca desistir, porque motivos milhares não permitem. força.
pode ser que a incerteza seja mais uma daquelas pedras que estão pelo percurso.
- eu chuto. pra bem l o n g e .

13.6.07

é assim porque é.



-
passando pelas ruas, sinto.
pelos transeuntes, pelas árvores,
pássaros e borboletas.
é assim porque é.

fecho os olhos, encho o peito de suspiros,
abro os poros. e sinto.

cócegas na alma.


-
porque chega um hora, que dá vontade de deixar marcados seus feitos.
de contar pro mundo todo o porque da sua felicidade.
de sair rodopiando por ai.
simplesmente, porque isso tudo, essa felicidade, faz cócegas na alma.