vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? e há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? e que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? e que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? e que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no planeta? vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
e de luar? que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar…
vamo brincá de pinel? que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
vamo brincá de ninho? e de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*
vamo brincá de autista? que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? bom-dia, leitor. tô brincando de ilha.
crônica de hilda hilst.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
- detalhe aqui.